Participaram da reunião os presidentes Cyril Ramaphosa (África do Sul), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia). Com duração de cerca de duas horas, a conversa abordou a importância de “ampliar mecanismos de solidariedade, coordenação e comércio entre os países” do bloco.
A presença do chanceler indiano, Vikram Misri, no lugar do primeiro-ministro Narendra Modi, foi um ponto notável, gerando debate entre especialistas sobre a real posição da Índia no BRICS e suas relações com os EUA. Giovana Branco, doutoranda em ciência política na USP, enfatizou a intenção do grupo de trabalhar em conjunto diante das dificuldades econômicas causadas por tarifas norte-americanas, destacando que a ausência de Modi não implica um afastamento da Índia do bloco.
Rodrigo Ruperto, historiador e pesquisador do BRICS, acredita que a cúpula serviu como um “botão de emergência” para abordar as tensões econômicas emergentes. Ele sugeriu que, ao convocar a reunião, o Brasil tentava evitar um confronto direto com os EUA e ressurgir a funcionalidade da Organização Mundial do Comércio (OMC), que enfrenta um impasse devido à postura dos Estados Unidos nos últimos anos.
Os analistas acredita que o BRICS poderia criar mecanismos de apoio suficientemente robustos para lidar com os desafios impostos pelas sanções internacionais. Além disso, discutiu-se a necessidade da desdolarização das transações entre os países do BRICS, uma estratégia que poderia reduzir a dependência do dólar como moeda de troca comercial.
Embora reconheçam que o grupo não possui uma estrutura institucional forte, os especialistas consideram que a semente de alternativas para enfrentar os desafios globais foi plantada. Ruperto salienta que o encontro foi crucial em um momento de crescente tensão internacional, indicando que as próximas reuniões do BRICS, como a do G20, exigirão uma resposta mais efetiva e coordenada em termos de governança global.
O BRICS se consolidou como uma alternativa no cenário mundial, mesmo que isso ainda não seja amplamente reconhecido pela opinião pública no Brasil. Esse aumento de coesão entre os países pode representar um passo significativo na busca de um protagonismo maior no sistema internacional.