Cúpula do G20 na África do Sul: Um Novo Capítulo para o Sul Global
No último fim de semana, Joanesburgo, na África do Sul, foi o cenário de um evento histórico: a cúpula de líderes do G20, marcando a primeira vez que o continente africano recebeu um dos maiores fóruns internacionais. A ausência dos Estados Unidos, representados pelo presidente Donald Trump que decidiu não comparecer, levantou questões sobre a atual dinâmica global e a crescente influência do Sul Global.
Sob o lema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, os líderes presentes aprovaram uma declaração que destacava a importância de investimentos em infraestrutura resiliente, especialmente em face das mudanças climáticas. O documento abordou tópicos cruciais como transição energética justa, ampliação do acesso à eletricidade, exploração sustentável de recursos minerais e a necessidade de manter a sustentabilidade da dívida para países em desenvolvimento. Isso demonstrou a disposição dos países do BRICS em redefinir a ordem internacional, expandindo a discussão para além dos tradicionais tópicos econômicos e de segurança.
Especialistas em relações internacionais, como João Estevão da Universidade Anhembi Morumbi, destacam que este encontro reafirma o papel ativo do Sul Global na reconfiguração do cenário internacional. A crescente clivagem entre o Norte e o Sul, evidenciada em reuniões anteriores, continua a ser uma característica marcante dos debates internacionais desde os anos 2000.
A ausência do governo norte-americano, segundo analistas, reflete uma estratégia de desinteresse por canais diplomáticos e uma tentativa de monopolizar negociações através de pressão direta. Essa postura, sinalizada por decisões como a saída dos EUA de importantes pactos multilaterais, tende a criar um vácuo que pode ser ocupado por outros centros de poder, especialmente aqueles representados no BRICS.
A cúpula do G20 não apenas ignorou conflitos internacionais como os da Ucrânia e Faixa de Gaza, mas também evidenciou a dificuldade de consensos dentro do grupo, onde interesses divergentes dificultam um alinhamento claro. Neste novo cenário multipolar, a busca por um consenso se torna cada vez mais desafiadora, refletindo uma realidade em que múltiplos atores competem por influência e espaço em uma arena que já não é mais dominada por uma única potência.
Conforme o g20 avança para sua próxima edição, que será sediada nos Estados Unidos em 2026, a expectativa é que as tensões continuem a dominar o debate, principalmente em áreas como comércio internacional e as barreiras impostas em rivalidades comerciais, especialmente com a China. A cúpula em Joanesburgo não apenas representou um momento histórico para a África, mas sinalizou uma mudança crucial na forma como as potências emergentes podem moldar a agenda global, estabelecendo um novo estilo de liderança e colaboração entre nações em desenvolvimento.









