Brasil ultrapassa prazo legal e mantém milhares de lixões abertos em 2024

A partir desta sexta-feira, 2 de agosto, o Brasil deveria eliminar todos os lixões a céu aberto, conforme estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305, de 2010). A legislação definiu prazos distintos para a erradicação dos lixões, baseando-se no tamanho dos municípios. No entanto, apesar do marco de 2024, quando todas as prefeituras teriam que finalizar as adaptações necessárias, milhares de lixões ainda operam sem controle ambiental ou sanitário em diversas regiões do país.

Originalmente, a lei previu que todos os rejeitos deveriam ter destinação final ambientalmente correta até dezembro de 2014. Posteriormente, o prazo foi estendido para 2020. Para municípios que possuíam políticas locais sobre resíduos sólidos e contavam com serviços de saneamento básico adequados, o limite foi prorrogado para entre 2021 e 2024, sendo este último prazo destinado aos municípios com menos de 50 mil habitantes em 2010.

O descumprimento desse prazo tem sido um ponto de preocupação entre os senadores, que realizaram diversas audiências públicas sobre o tema ao longo deste ano. Na primeira reunião da Comissão de Meio Ambiente em fevereiro, ficou claro que a meta não seria alcançada. De acordo com o senador Confúcio Moura (MDB-RO), 15% dos rejeitos e 40% dos resíduos gerais ainda são encaminhados para lixões. Moura destacou que a principal dificuldade reside na falta de capacidade financeira dos municípios para arcar com os custos de disposição adequada dos resíduos e na cobrança pelos serviços de saneamento.

A legislação atual determina que a gestão de resíduos deve ser de responsabilidade dos municípios, mas de forma integrada com estados e União. A criação de aterros sanitários é um caminho sugerido, porém, é cara e requer uma infraestrutura robusta, além de profissionais qualificados. Atualmente, o Brasil possui cerca de 3 mil lixões, gerando uma oportunidade não aproveitada de transformar esses resíduos em energia.

Debates na Comissão de Meio Ambiente discutiram o potencial de aterros sanitários para gerar energia a partir do biogás e biometano. Em maio, dois encontros trataram do aproveitamento energético dos resíduos, com participações de especialistas como André Galvão, da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente, que revelou que 37 dos aterros do país já produzem energia elétrica.

A situação é preocupante sobretudo nos municípios menores. Dados da Abrema indicam que a adesão à Política Nacional de Resíduos Sólidos é desigual. Em 2022, apenas 11,2% dos pequenos municípios do Norte destinavam corretamente seus resíduos, enquanto no Sul essa taxa era de 83,4%.

Para mitigar esses problemas, o governo federal anunciou a liberação de R$ 1,7 bilhão para a gestão de resíduos sólidos entre 2023 e 2026. No orçamento de 2024, R$ 102 milhões foram designados para ações específicas, ainda não desembolsados. A Confederação Nacional de Municípios (CNM) argumenta que a falta de recursos e o prazo apertado dificultam a eliminação dos lixões, além de criticar o veto presidencial ao apoio técnico e financeiro da União.

Enquanto isso, continuam tramitando no Senado projetos de lei visando melhorar a gestão desses resíduos. Recentemente, foi aprovado o projeto que institui a Semana do Lixo Zero para promover conscientização sobre o descarte adequado. Outras propostas buscam aumentar o investimento na área e estabelecer regras específicas para o descarte de materiais como veículos e pilhas.

A questão dos lixões no Brasil segue sendo um desafio complexo, em que o tempo e a adequação das políticas serão fatores determinantes para a solução dos problemas ambientais e de saúde pública associados.

Sair da versão mobile