Brasil e Venezuela: Relações Bilaterais em Foco Após Posse de Maduro e Desafios de Lula

A relação entre Brasil e Venezuela, marcada por altos e baixos ao longo da história, vem ganhando novo fôlego com a recente posse de Nicolás Maduro para um terceiro mandato. De acordo com especialistas, a aproximação entre os dois países é crucial em diversos aspectos, desde a cooperação econômica até questões políticas regionais.

Historicamente, Brasil e Venezuela sempre mantiveram uma relação de colaboração, em particular durante o período em que a Venezuela integrou o Mercosul, até ser suspensa em 2017. O cientista político Luis Javier Ruiz aponta que, com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, as expectativas de reaproximação são evidentes. No entanto, ele ressalta que as pressões internas enfrentadas por Lula dificultam uma abordagem mais direta e aberta sobre a situação na Venezuela.

Segundo especialistas, a relação Brasil-Venezuela possui um enorme potencial para um “intercâmbio comercial bilíngue” que poderia beneficiar ambos os países. Setores como agricultura, pecuária e a indústria aeronáutica são apenas algumas das áreas em que a colaboração pode ser ampliada. Além disso, o Brasil poderia aproveitar as vastas reservas de petróleo e gás da Venezuela, incrementando sua própria matriz energética e garantindo a geração de energia em regiões como Roraima, que ainda não está conectada ao Sistema Interligado Nacional.

Outro aspecto relevante é a possibilidade de reativação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), que poderia restaurar a estabilidade regional por meio de uma agenda comum para os problemas enfrentados pela América do Sul. Esse fortalecimento da integração sul-americana, segundo Eden Pereira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, se torna ainda mais importante no contexto atual de desafios globais.

A localização geográfica da Venezuela e seu histórico de relações com os países do Caribe também são fatores que podem favorecer o Brasil. Através de programas como o Petrocaribe, a Venezuela fornece petróleo a baixo custo para países caribenhos, o que poderia abrir novos mercados para produtos e serviços brasileiros.

No que tange à política energética, o retorno do Brasil à compra de energia da Venezuela, como ocorreu em anos anteriores, promete não apenas reduzir custos, mas também desvincular o abastecimento energético de fontes mais poluentes. Especialistas sustentam que essa colaboração não só beneficiaria as economias locais, mas também ajudaria na digitalização e modernização das infraestruturas no norte do Brasil.

Em meio a esse cenário, a representação brasileira na posse de Maduro por meio da embaixadora Glivânia de Oliveira evidencia um movimento sutil, mas significativo, de reaproximação. Contudo, para alguns analistas, Lula parece mais concentrado na gestão interna, buscando consolidar alianças frágeis e evitando possíveis repercussões políticas que uma relação mais aberta com Maduro poderia acarretar. A capacidade dos dois países de trabalhar juntos ainda depende de como serão gerenciados esses múltiplos interesses e pressões dentro do complicado panorama político atual.

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