A falta de participação dos EUA nesse evento pode simbolizar uma crise nas relações tradicionais, mas também apresenta uma oportunidade para que Brasil e África do Sul se destaquem como vozes proeminentes do Sul Global. Especialistas em relações internacionais, como Bruno Mendelski, enfatizam que essa cúpula pode ser especialmente produtiva, visto que o protagonismo dos países do Sul tende a crescer. O professor da Universidade de Brasília também salienta que a união entre essas nações é crucial para enfrentar a abordagem de “dividir para conquistar”, frequentemente adotada por potências hegemônicas.
Historicamente, Brasil e África do Sul têm buscado atuar como mediadores de conflitos e defensores de uma ordem internacional mais democrática. O Brasil, nos mandatos de Lula, implementou iniciativas sociais como o programa Fome Zero, que se tornaram referência para organismos internacionais. Por sua vez, a África do Sul emergiu como um porta-voz dos direitos humanos e da democracia desde o fim do apartheid, liderando ações significativas no cenário global.
Entretanto, as divergências ainda se manifestam em questões como comércio, energia, clima e gênero, complicando a elaboração de um documento final consensual para a cúpula deste ano. Essa realidade evidencia a fragilidade do multilateralismo no atual contexto internacional, onde as agendas nacionais predominam sobre os interesses globais. José Niemeyer, professor do Ibmec, observa que o sistema internacional está passando por um processo de esvaziamento do multilateralismo, dificultando a construção de consensos em momentos críticos.
A discussão sobre a crise ambiental é especialmente urgente, considerando as desigualdades estruturais que cercam esse tema. Niemeyer alerta que mudanças significativas na economia de países dependentes dos combustíveis fósseis são desafiadoras e suscitam ansiedade populacional. Apesar das dificuldades, há esperança de que o debate ambiental sirva como um ponto de saída no caos atual.
Neste cenário volátil, a importância da articulação entre instituições financeiras multilaterais e novos bancos regionais, como o Banco do BRICS, ganha destaque, de acordo com analistas. Eles sugerem a necessidade de um framework básico para regular inovações, como a inteligência artificial, visando defender direitos humanos e segurança.
À medida que o G20 se aproxima, o mundo observa atentamente o andamento das negociações e o impacto que as decisões tomadas nesse encontro poderão ter, não apenas para os países membros, mas para o futuro do equilíbrio geopolítico global.
