A fragmentação da esquerda, resultado de uma disputa interna entre o ex-presidente Evo Morales e o atual presidente Luis Arce, foi um fator crucial para esse desfecho. As prévias em que Arce e Morales se confrontaram demonstraram a clara vulnerabilidade do MAS, que governou a Bolívia pelos últimos 20 anos. Essa divisão permitiu que candidatos de ideologias mais à direita, como Paz e Quiroga, emergissem como favoritos, prometendo uma aproximação com os Estados Unidos, especialmente no setor de energia, que inclui petróleo e gás.
Corival Alves do Carmo, professor de Relações Internacionais, sugere que essa mudança se alinha a interesses geopolíticos mais amplos, onde a Bolivianidade enfrenta desafios em termos de produção e demanda de gás, particularmente em um cenário de crescente competitividade com a produção de energia nos Estados Unidos e Argentina. Ele menciona que o lítio, um recurso abundante na Bolívia, poderia servir de ponto estratégico para fortalecer laços com Washington.
O cenário se torna ainda mais complexo ao considerar a posição do Brasil, que é visto como um potencial mediador na integração regional. A compra de gás boliviano pode ser utilizada como uma ferramenta de influência pelo governo brasileiro, visando contrabalançar a crescente influência estadounidense na Bolívia. Esse contexto exige que Brasília não apenas busque manter uma relação produtiva com o novo governo, mas também atue como uma solução para os problemas econômicos bolivianos, especialmente diante da instabilidade que as reservas internacionais do país enfrentam.
Portanto, qualquer governo que prevalecer nas eleições não só gerará um novo alinhamento no cenário político boliviano, mas também moldará a dinâmica entre os Estados Unidos e Brasil na América do Sul. Com possibilidades de formar uma ‘cabeça de ponte conservadora’ na região, a ascensão de líderes como Paz e Quiroga representa um desafio significativo para a política regional dos últimos anos, que buscou avançar na integração e na cooperação sul-americanas.









