Brasil deve aprender com o BRICS para uma nova era de industrialização, destacam analistas sobre desafios e potenciais de tecnologia e inclusão.

A Reindustrialização do Brasil e as Oportunidades no BRICS

O Brasil, com seu modelo de industrialização baseado na substituição de importações, adotado durante a Era Vargas há mais de meio século, encontra-se em um momento crucial para repensar sua estratégia. As vozes de especialistas ressaltam que o país possui muito a aprender e ganhar ao estabelecer relações mais sólidas com os integrantes do BRICS, um grupo que inclui potências como China, Índia e Rússia.

Para avançar, é essencial que o Brasil implemente um projeto de Estado focado na neo-industrialização, que considere aspectos ambientais, inclusão social e desenvolvimento sustentável a longo prazo. Especialistas como Haroldo Silva, vice-presidente do Conselho Regional da Economia e autor do livro "A Ilusão Neoliberal da Indústria", apontam que um dos grandes passos na interação com as economias do BRICS envolve a criação de parcerias que facilitem a transferência de tecnologia. "O Brasil pode fornecer alimentos e proteínas em abundância para nações como China e Índia, em troca de tecnologia em setores estratégicos, como energia solar e tecnologia da informação", sugere Silva.

Nesse cenário, a Rússia se destaca pelo seu potencial tecnológico na área militar, que, segundo Silva, é importante para a segurança nacional. Apesar de suas características pacíficas, o Brasil precisa estar preparado para dissuadir intervenções internacionais, especialmente considerando os seus vastos recursos naturais, como a Amazônia e o petróleo na Margem Equatorial. Para o longo prazo, as cooperações com os parceiros do BRICS poderiam fomentar o desenvolvimento de centros dedicados à tecnologia, especialmente em inteligência artificial.

O professor Pablo Ibanez, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, também enfatiza que o Brasil deve aproveitar seu pertencimento ao BRICS, particularmente por meio de fóruns comerciais que facilitam intercâmbios entre empresários internacionais. Ele aponta setores como a defesa e a indústria naval como áreas que exigem revitalização, além de destacar o Novo Banco de Desenvolvimento (Banco do BRICS) como um potencial aliado na implementação de grandes projetos.

Entretanto, ambos os especialistas concordam que a falta de um plano de longo prazo, que não varie conforme os ciclos eleitorais, é um dos principais handicaps do Brasil. A maior preocupação é que a mentalidade neoliberal predominante tornou-se um impedimento para a colaboração entre o Estado e a iniciativa privada, necessária para romper o atual estagnação.

A indústria, segundo analistas, é vital para a soberania e a saúde pública, especialmente evidenciada durante a pandemia de COVID-19, quando a dependência de itens importados, como respiradores, se intensificou. Um ambiente propício à industrialização requer não apenas a presença de recursos naturais, mas também condições favoráveis à competitividade e investimentos robustos.

Um dos maiores obstáculos identificados para a revitalização da indústria é a taxa de juros, tida como um forte entrave que, combinada com outros custos operacionais no Brasil, cria uma barreira significativa para as empresas que almejam competir no cenário internacional. A necessidade de repensar modelos econômicos e buscar financiamento a longo prazo com juros acessíveis é imperativa, segundo Ibanez, caso contrário, o Brasil permanecerá à mercê das dinâmicas negativas que dificultam o avanço da indústria.

Com cadeias produtivas cada vez mais globalizadas intensificadas pela industrialização chinesa, que responde por uma enorme parcela das exportações mundiais, o Brasil precisa superar seus desafios internos para garantir um espaço relevante na indústria global. A situação política e econômica atual, dominada por agendas distantes das necessidades de industrialização, continua sendo um obstáculo significativo a ser enfrentado. A discussão em torno da industrialização e do desenvolvimento sustentável permanece, portanto, mais urgente do que nunca para o futuro do Brasil.

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