O objetivo do Brasil, conforme fontes diplomáticas, é assumir um papel de liderança na mediação entre o governo chavista e a oposição venezuelana. Para isso, a diplomacia brasileira está priorizando a manutenção de canais abertos de diálogo com ambas as partes envolvidas no conflito. Trata-se de uma aposta ousada, especialmente em um momento em que a imprensa internacional e países influentes como os Estados Unidos e membros da União Europeia questionam a legitimidade do resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela.
As autoridades brasileiras reconhecem os desafios dessa estratégia. Fontes oficiais admitiram que o caminho escolhido pelo presidente Lula é repleto de dificuldades e incertezas. Na última terça-feira, antes de se reunir com Celso Amorim, Lula já havia declarado que não enxergava “nada de anormal” no processo eleitoral venezuelano. Desde então, a assessoria internacional da presidência e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil têm realizado uma série de conversas com quase todos os governos da região, na tentativa de abrir espaço para uma eventual mediação.
Celso Amorim, em suas frequentes conversas com a Casa Branca, foi informado antecipadamente sobre o comunicado que o Departamento de Estado americano, através do secretário de Estado Antony Blinken, emitiria. O governo de Joe Biden apontou que “a oposição democrática publicou mais de 80% das atas de contagem recebidas diretamente das seções eleitorais em toda a Venezuela”, sugerindo que o opositor Edmundo González Urrutia teria recebido a maioria dos votos com uma “margem intransponível”.
Os representantes de Lula afirmaram a interlocutores do governo Biden que consideravam essa posição equivocada. No entanto, cientes da relação estreita entre os Estados Unidos e a opositora venezuelana María Corina Machado, entenderam que essa narrativa seria amplamente disseminada.
A diplomacia brasileira enfrenta ainda outro desafio imposto pelo tempo. Enquanto os esforços de mediação avançam lentamente, alguns governos sul-americanos, como Uruguai, Peru e Equador, já manifestaram apoio às denúncias de fraude apresentadas pelo candidato opositor Edmundo González e por María Corina, reconhecendo as supostas evidências de vitória da oposição baseadas nas atas de contagem apresentadas por seus partidários.
Esta articulação contínua e a busca por uma solução diplomática para a crise venezuelana demonstram a aposta de alta tensão que o governo Lula faz na tentativa de estabilizar a região, evitando isolamentos e promovendo o diálogo em meio a um cenário internacional profundamente dividido.