Brasil busca autonomia em tecnologia com IA própria, estabelece parcerias no BRICS e mira na “soberania das nuvens”, afirma secretário de Ciência e Tecnologia.

Na busca por autonomia tecnológica, o Brasil se posiciona de forma assertiva na cena global com o desenvolvimento de uma inteligência artificial (IA) própria, semelhante ao ChatGPT. Henrique Miguel, Secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), afirmou que o país está se esforçando para garantir a “soberania das nuvens”, um conceito que implica em treinar suas bases de dados sem depender das ferramentas das grandes empresas de tecnologia, predominantemente norte-americanas.

O mapeamento recente divulgado pela OpenAI coloca o Brasil como o terceiro maior usuário do ChatGPT, atrás apenas dos Estados Unidos e Índia. Esse dado surge em um contexto de crescente debate sobre a dependência tecnológica, especialmente em relação aos EUA. Diante disso, o governo brasileiro anunciou um investimento de R$ 23 bilhões ao longo de quatro anos para implementar o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que visa transformar o país em referência mundial nesse campo, principalmente no setor público.

Miguel enfatizou que a questão da IA é um tema crítico não só para o Brasil, mas para países ao redor do mundo. Na sua perspectiva, nações do Sul Global, incluindo a América Latina, estão se mobilizando para reduzir a dependência tecnológica de um seleto grupo de empresas americanas. O secretário destacou a importância da colaboração com países como China, Índia e África do Sul para desenvolver uma infraestrutura de nuvem que respeite regulações locais e seja segura.

Além disso, a Rússia expressou interesse em parceria nas áreas de tecnologia quântica e segurança cibernética, essenciais para a iniciativa. Durante as reuniões do G20 e do BRICS, líderes desses países notaram uma preocupação em comum: a homogeneização dos conteúdos gerados por IA, que atualmente se baseiam majoritariamente no inglês. Este cenário aponta para a urgência da criação de modelos de linguagem adequados ao português, não apenas por questões de acessibilidade, mas também por sua relevância cultural.

Enquanto os Emirados Árabes e a Arábia Saudita avançam em programas de aprendizado de máquina, o Brasil se propõe a criar uma IA que vai além de ser mais uma alternativa no mercado; seu foco é o treinamento em bases de dados locais e específicas, promovendo um conhecimento diversificado e adaptado à realidade do país.

Além da camada de software, Miguel também mencionou a complexidade de desenvolver os componentes de hardware, como CPUs e GPUs. O Brasil está envolvido em iniciativas globais utilizando a arquitetura RISC-V, uma revolução nos semicondutores, visando construir uma base sólida e autônoma.

Os desafios são muitos, mas a determinação do Brasil em se afirmar como um ator relevante no cenário tecnológico mundial é clara. A iniciativa de criar uma inteligência artificial sob medida para suas necessidades e desafios pode não apenas promover avanços na tecnologia, mas também resgatar a essência cultural e educacional do povo brasileiro.

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