Brasil: A Jovem Democracia que Luta Contra os Velhos Fantasmas da Ditadura e a Retórica da Intolerância

A Jovem Democracia Brasileira e os Desafios de sua Maturidade

O Brasil, em um período que se aproxima de quatro décadas de democracia, ainda se comporta como um jovem tentando se afirmar como adulto. Entre tropeços e reerguimentos, o país exibe um semblante de maturidade que, na verdade, revela suas inexperiências e fragilidades. As instituições, ainda em fase de amadurecimento, enfrentam uma justiça lenta, uma política paralizada e reformas que parecem eternamente adiadas, como se estivessem guardadas em uma gaveta empoeirada. Contudo, um aspecto permanece inegável: estamos em um país onde a liberdade floresce.

No cotidiano brasileiro, essa liberdade se manifesta de diversas formas. O povo aproveita a possibilidade de ouvir discursos variados, desde os de esquerda, que trazem análises certeiras e utópicas ao mesmo tempo, até a retórica conservadora da direita, imersa em tradições e valores, mas, muitas vezes, soando vazia. A política fervilha com paixões intensas, onde cada um defende seu ponto de vista com convicção, embasando suas crenças em ideologias arraigadas e narrativas absolutamente certas.

Entretanto, é imperativo evitar comparações simplistas. A realidade atual não se assemelha em nada à opressão da ditadura, que silenciava vozes antes mesmo que elas pudessem ser ouvidas. Naquela época, a censura permeava todos os aspectos da vida, desde piadas em conversas informais até a proibição da publicação de livros. O medo era uma constante, e o silêncio, um tipo de disciplina dolorosa.

Hoje, pelo contrário, debates efervescem em várias esferas, da sociedade civil às redes sociais. Criticar o governo, questionar o Legislativo e desafiar o Judiciário são práticas comuns. Essa dinâmica é a encarnação da liberdade democrática, que se manifesta de forma vigorosa e audaciosa.

Afirmar que o Brasil vive sob um regime ditatorial num cenário em que se pode criticar abertamente ministros do Supremo Tribunal é, no mínimo, uma falta de compreensão do que realmente significa a ditadura. É um despropósito que busca confundir a população e engendrar um medo sem fundamento.

Os gritos de “ditadura” proferidos por apoiadores de figuras políticas controversas, como Jair Bolsonaro, são reveladores. Tentativas de fechar tribunais, incitar golpes ou evocar a presença militar nas ruas evocam os verdadeiros traços de um regime opressivo, que foram repelidos pela força das instituições democráticas.

A democracia brasileira pode apresentar falhas, mas ainda assim se mantém resiliente, resistindo às críticas acerbas e à histeria de disputas ideológicas. O futuro não é certo e há muito a ser aprimorado – a justiça clama por reformas, e a política enfrenta seus dilemas. Contudo, mesmo com suas imperfeições, a liberdade gerada por essa convivência democrática é infinitamente superior ao silêncio e à opressão do passado.

É essa liberdade que nos permite expressar nossas opiniões, debater em públicos variados e protestar nas ruas. Criticar é um dos pilares que sustentam a democracia, e aqueles que propagam que vivemos sob uma ditadura não lutam pela liberdade; estão, na verdade, tentando miná-la. Ao alertar sobre fantasmas comunistas ou se opor ao status quo, disfarçam os próprios fracassos.

Assim, contra a desinformação e a retórica ingênua, a palavra livre continua a ser nossa principal defesa. A democracia, com todos os seus desafios, ainda é um bem precioso que deve ser celebrado e defendido com fervor.

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