Gonet alertou para a ameaça que estas ações representaram ao Estado democrático de direito, enfatizando que, mesmo sem a efetivação do golpe, a intenção de obstruir a alternância de poder após as eleições de 2022 era clara. O procurador explicou que a estratégia envolvia ações síncronas destinadas a obstruir o exercício do poder por um presidente eleito, visando manter Bolsonaro no cargo, apesar de sua derrota nas urnas.
Entre as táticas empregadas pela organização criminosa que, segundo Gonet, era liderada pelo ex-presidente, estavam campanhas de desinformação contra o sistema eleitoral e incitações à violência direcionadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O procurador descreveu como a combinação de violência simbólica e física foi utilizada para instigar a população a desacreditar nos resultados das eleições e, em certos momentos, até a considerar a intervenção militar como uma possibilidade.
A análise de Gonet também abordou o papel dos militares nesse contexto. Ele afirmou que o presidente e o Ministro da Defesa convocaram a cúpula militar para formalizar o golpe de Estado, uma reunião que, segundo ele, era uma clara demonstração de que um plano estava sendo posto em prática antes mesmo de qualquer ação formal ser executada. O procurador detalhou ainda como cada etapa do golpe incluía desde a manipulação de informações até tentativas de cooptação de militares, com o objetivo de garantir a continuidade do governo de Bolsonaro através de decretos e planos que visavam à obstrução da posse do presidente eleito.
No decorrer do processo, Gonet enfatizou que as provas são robustas e suficientes para comprovar a tentativa de golpe, que, segundo ele, foi frustrada apenas pela resistência das instituições, como o Exército e o Judiciário. Acrescentou que “os atos que compõem o panorama espantoso e tenebroso da denúncia de atentado contra as instituições democráticas não podem ser minimizados”.
Nesse contexto, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal começou a avaliar a ação penal contra Jair Bolsonaro e outros sete envolvidos na tentativa de golpe, com possíveis penas acumuladas que podem chegar a 43 anos. Vale ressaltar que, em um comunicado recente, líderes do Partido Liberal confirmaram que Bolsonaro não compareceria ao julgamento por razões de saúde, o que levantou questões sobre sua disposição para enfrentar as acusações.