Biblioteca do Judiciário em Alagoas encerra leitura guiada de “Um defeito de cor”, promovendo reflexões sobre equidade racial e transformação social através da literatura.

Na manhã desta quinta-feira, a Biblioteca Geral do Poder Judiciário de Alagoas deu por encerrados os encontros de leitura guiada da obra “Um defeito de cor”, escrita pela renomada autora Ana Maria Gonçalves. As atividades foram realizadas na Escola Superior da Magistratura de Alagoas (Esmal), sob a mediação da professora Luiza Cristina Silva, do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Este evento proporcionou um espaço significativo para reflexão e discussão sobre temas essenciais da história brasileira.

A professora Luiza enfatizou a importância da obra, destacando sua capacidade de desafiar a historiografia tradicional que, muitas vezes, silencia aspectos cruciais da formação do Brasil. Em suas palavras, a narrativa de Gonçalves impulsiona os leitores a reconsiderarem os paradigmas que utilizam para entender o país, promovendo uma ruptura com visões eurocêntricas e permitindo a inclusão de outras cosmovisões e saberes, como os das tradições iorubás, banto, jejes e fons.

Durante os encontros, Luiza ressaltou o papel transformador de histórias como a de “Um defeito de cor”, que podem não apenas gerar reflexões, mas também inspirar ações concretas de transformação social. “Ao nos debruçarmos sobre o século XIX abordado na obra, ampliamos nosso entendimento acerca da realidade brasileira e os efeitos duradouros do processo de escravização. Esses encontros vão além de um mero exercício literário – são uma provocação à reflexão, especialmente no campo jurídico”, afirmou.

A oficiala de justiça Maura Lúcia também partilhou suas experiências durante as quatro sessões, ressaltando a profundidade das trocas realizadas e o aprendizado coletivo que emergiu dessas discussões. “A protagonista Kehinde é um símbolo das histórias que compõem a formação do povo negro no Brasil. Nossa historiografia muitas vezes oculta a verdadeira narrativa da chegada das pessoas escravizadas e suas contribuições culturais. Essa leitura nos possibilitou uma nova compreensão sobre a influência dessas histórias na construção do Brasil”, afirmou.

Mirian Ferreira Alves, diretora da Biblioteca do TJAL, considerou a leitura guiada um marco nas discussões sobre equidade racial no Judiciário. Para ela, essa atividade é uma oportunidade de criar novas narrativas a partir de perspectivas contracoloniais. “Cada encontro foi uma chance de aprendizado e de reavaliação de nossa própria história. Acredito que iniciativas como esta são fundamentais para construirmos uma justiça mais humana e antirracista”, destacou.

Mirian também mencionou que ações formativas como essa são essenciais na formação de multiplicadores dentro do Judiciário, encorajando servidores e magistrados a aplicar os aprendizados no cotidiano. “Deixamos esses encontros com novas visões, aptos a inspirar mudanças concretas na forma como enxergamos e aplicamos a justiça. Quando o Judiciário dialoga com a literatura, a história e a ancestralidade, transforma-se em um espaço mais humano e comprometido com a equidade racial”, concluiu. Essa iniciativa reafirma a importância da literatura não apenas como uma ferramenta de conhecimento, mas como um caminho para a empatia e a justiça social.

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