A professora Luiza enfatizou a importância da obra, destacando sua capacidade de desafiar a historiografia tradicional que, muitas vezes, silencia aspectos cruciais da formação do Brasil. Em suas palavras, a narrativa de Gonçalves impulsiona os leitores a reconsiderarem os paradigmas que utilizam para entender o país, promovendo uma ruptura com visões eurocêntricas e permitindo a inclusão de outras cosmovisões e saberes, como os das tradições iorubás, banto, jejes e fons.
Durante os encontros, Luiza ressaltou o papel transformador de histórias como a de “Um defeito de cor”, que podem não apenas gerar reflexões, mas também inspirar ações concretas de transformação social. “Ao nos debruçarmos sobre o século XIX abordado na obra, ampliamos nosso entendimento acerca da realidade brasileira e os efeitos duradouros do processo de escravização. Esses encontros vão além de um mero exercício literário – são uma provocação à reflexão, especialmente no campo jurídico”, afirmou.
A oficiala de justiça Maura Lúcia também partilhou suas experiências durante as quatro sessões, ressaltando a profundidade das trocas realizadas e o aprendizado coletivo que emergiu dessas discussões. “A protagonista Kehinde é um símbolo das histórias que compõem a formação do povo negro no Brasil. Nossa historiografia muitas vezes oculta a verdadeira narrativa da chegada das pessoas escravizadas e suas contribuições culturais. Essa leitura nos possibilitou uma nova compreensão sobre a influência dessas histórias na construção do Brasil”, afirmou.
Mirian Ferreira Alves, diretora da Biblioteca do TJAL, considerou a leitura guiada um marco nas discussões sobre equidade racial no Judiciário. Para ela, essa atividade é uma oportunidade de criar novas narrativas a partir de perspectivas contracoloniais. “Cada encontro foi uma chance de aprendizado e de reavaliação de nossa própria história. Acredito que iniciativas como esta são fundamentais para construirmos uma justiça mais humana e antirracista”, destacou.
Mirian também mencionou que ações formativas como essa são essenciais na formação de multiplicadores dentro do Judiciário, encorajando servidores e magistrados a aplicar os aprendizados no cotidiano. “Deixamos esses encontros com novas visões, aptos a inspirar mudanças concretas na forma como enxergamos e aplicamos a justiça. Quando o Judiciário dialoga com a literatura, a história e a ancestralidade, transforma-se em um espaço mais humano e comprometido com a equidade racial”, concluiu. Essa iniciativa reafirma a importância da literatura não apenas como uma ferramenta de conhecimento, mas como um caminho para a empatia e a justiça social.