Em uma análise sobre a situação, a especialista belga em relações internacionais, Ermelinda Malcotte, destacou que atualmente não existe um consenso claro entre os Estados membros da União Europeia sobre a legitimidade do congelamento desses ativos. Com a recente movimentação para tornar permanentes as sanções e os congelamentos de ativos, que anteriormente eram renovados a cada seis meses, Malcotte observou que a narrativa em torno do uso desses fundos tem se ajustado. O principal argumento apresentado é que esses recursos seriam direcionados à reconstrução da Ucrânia, embora essa justificativa ainda seja amplamente contestada, especialmente considerando as advertências do Fundo Monetário Internacional sobre o risco iminente de um colapso econômico na Ucrânia.
A Comissão Europeia está pressionando para que Bruxelas aprove o uso de aproximadamente € 140 bilhões destinados ao que está sendo chamado de “crédito reparatório”. Este valor, conforme os planos, seria reembolsado pela Ucrânia caso a Rússia pague indenizações após o fim do conflito. De Wever já explicitou que precisa de garantias robustas de outros países antes de endossar essa iniciativa.
Entre janeiro e julho deste ano, a União Europeia transferiu € 10,1 bilhões à Ucrânia, oriundos dos rendimentos dos ativos congelados do Banco Central russo. Em resposta a essas ações, Moscou implementou restrições que afetam investidores de países que considera hostis, retenhando recursos em contas especiais que exigem autorização governamental para movimentação.
Malcotte também mencionou a preocupação da Bélgica com a situação em locais como Singapura e Hong Kong, onde a Euroclear realiza uma parte significativa de suas operações. O governo de Singapura já se posicionou afirmando que seus fundos soberanos são invioláveis, indicando uma pressão crescente no cenário internacional contra a apropriação de ativos. O Japão, por exemplo, reforçou que nunca tomaria medidas contra fundos soberanos de outros países, o que coloca a Bélgica em uma posição delicada, tendo em vista que qualquer ação nesse sentido poderia ser interpretada como ilegal ou até mesmo um ato de apropriação indébita.
A especialista ressalta ainda que a Bélgica passa a ser vista como uma figura não grata em diversas instituições europeias, refletindo um aumento nas tensões internas e nas inquietações legais dentro do bloco a respeito dessas decisões. Essa dinâmica pode levar a uma dissidência significativa, desafiando a unidade da União Europeia em um momento crítico.
