Cristina compartilhou sua dolorosa experiência ao comentar sobre uma cena de assédio sexual no longa. “Cheguei no colégio com o uniforme aberto e ninguém se preocupou, só queriam saber porque eu estava chegando atrasada. Quando o Candinho (personagem do filme vítima de assédio) chora, sou eu que choro e são muitas meninas de 12 anos, com aquela menina que estava a caminho do colégio e mataram aquela menina”, desabafou a atriz, visivelmente emocionada. “É a primeira vez que falo publicamente sobre isso. Aconteceu comigo, mas está acontecendo agora com muitas meninas. Estava entrando na puberdade, nem tinha ficado menstruada. Eu não sabia nada sobre sexo, não sabia o que aquele homem tinha feito comigo, uma coisa horrível. Na minha época não tinha educação sexual nas escolas. E essa turma do boi, da bíblia e da bala não querem que as crianças saibam.”
A revelação de Cristina Pereira teve um forte impacto sobre os presentes, especialmente as mulheres, que se mostraram profundamente tocadas e solidárias. Anna Muylaert, diretora do filme, já conhecia a história da atriz e a acolheu pessoalmente durante o depoimento. Apesar do momento de intensa emoção, Cristina optou por permanecer na sala, permitindo que o debate fosse retomado.
“O Clube das Mulheres de Negócios” apresenta uma crítica contundente ao patriarcado e às estruturas de poder, propondo uma inversão de papéis de gênero. No filme, são as mulheres que “dominam o mundo” e ditam as regras, muitas vezes exibindo comportamentos violentos e ambiciosos, enquanto os homens são retratados frequentemente como objetos e desumanizados.
A première de gala do filme, realizada no sábado (10), marcou o início das sessões competitivas do festival. Rafa Vitti, Luís Miranda, Louise Cardoso, Cristina Pereira, Ítala Nandi, Katiuscia Canoro, Maria Bopp, Grace Gianoukas, Polly Marinho e Shirley Cruz cruzaram o tapete vermelho ao lado de Anna Muylaert, que já havia conquistado o festival há 22 anos com “Durval Discos”, e exibiu na edição de 2015 o aclamado “Que Horas Ela Volta?”.
Sem a presença de Rafa Vitti, que retornou ao Rio de Janeiro para passar o Dia dos Pais com sua filha Clara e celebrar o aniversário da esposa Tatá Werneck, a equipe do filme participou de um debate aberto ao público na manhã de domingo. Anna Muylaert destacou que “queria falar das estruturas de poder de forma geral. É um filme que nasceu num momento muito difícil, em que a sociedade encarou muitas questões de gênero e raça”. Utilizando humor para abordar temas profundos, a diretora afirmou que “as mulheres descem ao inferno; faz parte da vida da mulher. Somos acostumadas ao abuso. Em cima da casa grande, temos túneis e violências. O Brasil é um país muito bonito por cima, mas tem seus problemas no subsolo.”
O primeiro fim de semana na charmosa cidade de Gramado, que ainda se recupera dos impactos das recentes chuvas, foi marcado por temperaturas abaixo de 10 graus e ruas movimentadas, porém com um número visivelmente menor de turistas e convidados em comparação aos anos anteriores. O evento teve uma abertura especial na sexta-feira com a exibição de “Motel Destino”, de Karim Aïnouz. No sábado, além da sessão de “O Clube das Mulheres de Negócios”, o Palácio dos Festivais homenageou Matheus Nachtergaele com o Troféu Oscarito pelo conjunto de sua obra, encerrando a noite com a exibição do primeiro episódio da série “Cidade de Deus: a luta não para”, dirigida por Aly Muritiba para a plataforma de streaming Max.