Argentina Privatiza Usinas Hidrelétricas na Patagônia em Busca de Estabilidade Econômica

A Casa Rosada anunciou oficialmente a aceitação das propostas para a venda de quatro usinas hidrelétricas situadas na Patagônia, uma decisão que marca um importante capítulo na política econômica do governo do presidente Javier Milei. Estima-se que essa transação arrecade cerca de US$ 685 milhões (equivalente a R$ 3,6 bilhões), simbolizando um passo significativo no esforço do governo em combater a crescente escassez de reservas em dólares, além de fortalecer o investimento privado na Argentina.

As usinas que estão em pauta — Alicurá, Piedra del Águila, El Chocón-Arroyito e Cerros Colorados — são fundamentais para o fornecimento de energia e estão localizadas nas províncias de Neuquén e Río Negro. A privatização marca o retorno das ofertas de operadoras locais como Central Puerto, MSU e Grupo Edison, que superaram gigantes multinacionais que detinham o controle dos ativos desde a década de 1990.

O Ministro da Economia, Luis Caputo, destacou que essa iniciativa reafirma o interesse do setor privado em investir na Argentina, especialmente sob um marco regulatório claro. Historicamente, estas usinas são parte das chamadas Barragens de Comahue, construídas entre os anos 1960 e 1990, e têm um papel crucial não apenas na geração de energia, que corresponde a aproximadamente 25% da capacidade total do país, mas também na regulação das vazões de rios importantes, abastecimento de grandes centros urbanos e suporte a indústrias locais.

No entanto, a privatização não ocorre sem controvérsias. A Comissão Bicameral de Privatização do Congresso levantou preocupações sobre a falta de definições claras quanto à autoridade reguladora que supervisionará as novas concessionárias. Tal ausência, segundo parlamentares, pode levar à concentração de poder e prejudicar a equidade no acesso às redes de energia. Além disso, o Tribunal de Avaliação, responsável por avaliar as propostas, delegou sua função a um banco privado, o que suscitou críticas de opositores que veem riscos potenciais para o patrimônio estatal.

O Tribunal de Contas da União (TCU) também enfrenta desafios, já que a expiração dos mandatos de seus auditores limita sua capacidade de fiscalização sobre as privatizações. O governo, mesmo em um contexto de TCU inativo, vai adiante com planos para privatizar outras sete barragens e estatais em setores ferroviários e rodoviários.

Enquanto a Casa Rosada celebra a arrecadação prevista, especialistas alertam sobre o custo oculto dessa estratégia, ressaltando que a história recente da Argentina com privatizações não é animadora. Críticos, como o historiador Alejandro Olmos Gaona, advogam que a venda de ativos estratégicos para atender a exigências de credores pode trazer mais problemas a longo prazo, reforçando uma preocupação com a eficiência e a gestão futura das usinas em mãos privadas.

Neste cenário complexo, a polarização entre a busca por investimentos e a necessidade de preservação de ativos estratégicos se torna uma questão central na política econômica da Argentina sob o governo Milei. A próxima etapa será observar como a gestão dessas usinas será conduzida e quais impactos efetivos isso terá na economia do país.

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