De acordo com dados recentes, o consumo per capita de carne bovina ficou em apenas 47,4 quilos entre janeiro e novembro de 2024, quase 6 quilos a menos do que no mesmo período do ano anterior e muito abaixo da média histórica de 72,9 quilos. Esse cenário resulta de uma combinação de fatores, incluindo a queda da renda das famílias e um aumento nos preços dos alimentos, que continuam elevados mesmo com inflação em queda.
Os dados sugerem que a crise econômica não afeta somente a demanda, mas também a oferta de carne, que registra um abate 8% menor, impulsionado por condições climáticas adversas que impactaram a produção. Nesse contexto, as famílias argentinas estão optando por alternativas mais baratas, como aves e suínos. Curiosamente, em 2024, pela primeira vez, o consumo de carne de frango quase igualou ao de carne bovina, alcançando 44,5 quilos per capita.
Embora as vendas internas estejam em declínio, as exportações de carne bovina experimentaram um aumento significativo, com mais de 784 mil toneladas enviadas ao exterior, especialmente para mercados como China, Israel e Estados Unidos. A situação é paradoxal: enquanto os argentinos estão restringindo seu consumo, a carne que não é consumida localmente está sendo destinada a mercados internacionais.
A pressão econômica sobre as famílias é evidente, e líderes do setor alertam que atividades sociais tradicionais, como os churrascos, estão se tornando um luxo acessível a poucos. De acordo com Fernando Savore, presidente da Federação de Almaceneiros da província de Buenos Aires, muitas famílias simplesmente deixaram de fazer churrascos durante as celebrações de fim de ano, marcando uma mudança drástica nas tradições culturais.
Adicionalmente, fatores como a política econômica do atual governo e o aumento da informalidade no mercado de trabalho agravam essa realidade. Confirmando o cenário, quase 60% dos trabalhadores informais não conseguem cobrir suas necessidades básicas com a renda que recebem, contrastando com apenas 8% entre trabalhadores com registro formal.
A situação persiste sem perspectivas claras de recuperação a curto prazo, deixando a emblemática tradição do churrasco em um estado de insegurança, onde a continuidade desse ritual cultural agora depende da recuperação econômica e da melhoria das condições de vida da população argentina.