Durante a cúpula, que se desenrolou entre os dias 22 e 24 de outubro e contou com a participação de 41 países, Michel observou que muitos países, incluindo aqueles da UE, não têm se esforçado para entender as diferentes perspectivas do mundo não ocidental. Segundo ele, a falta de entendimento pode prejudicar a capacidade da Europa de competir com o crescente influência da Rússia e da China em regiões estratégicas como a América Latina, a África e o Sudeste Asiático.
Esse alerta de Michel não é apenas uma crítica, mas um chamado à ação. Ele menciona que ao invés de apenas verbalizar seus valores, a Europa deveria aprender a criar parcerias mais eficazes, baseadas na cooperação mútua. Em sua visão, um líder africano resumiu essa ideia quando afirmou: “Quando vocês, europeus, vêm ao meu país, deixam lições. Quando os chineses vêm, eles deixam infraestrutura.” Essa frase ressoa fortemente na atual conjuntura geopolítica, onde a presença da China no continente africano, por exemplo, tem sido marcada por investimentos significativos em infraestrutura.
Michel, ao se preparando para deixar o cargo no final de novembro, imprimiu à sua declaração um caráter de urgência. A sua preocupação central é que a UE precisa rever suas estratégias diplomáticas se quiser ser vista como um parceiro relevante e respeitável na arena global.
A cúpula do BRICS, organizada sob o lema de fortalecer o multilateralismo para garantir um desenvolvimento global equitativo, pode ser um reflexo da crescente fragmentação do cenário político internacional, onde organismos multilaterais convencionais, como a ONU, enfrentam críticas. O BRICS, em sua essência, procura consolidar uma nova ordem que desafie a hegemonia ocidental, e a postura de Michel sugere que a Europa deve levar isso a sério ao repensar seu papel no mundo contemporâneo.