Após cúpula do BRICS, Charles Michel pede à UE respeito e menos lições ao mundo diante da influência crescente da Rússia e China

Em uma declaração provocativa, Charles Michel, o presidente do Conselho Europeu, destacou a necessidade urgente de uma mudança na postura da União Europeia (UE) em relação aos países em desenvolvimento, após a recente 16ª Cúpula do BRICS, que ocorreu em Kazan, Rússia. Michel enfatizou que a UE deve deixar de lado a tendência de “dar lições” a outras nações e, em vez disso, adotar uma atitude de respeito e compreensão das realidades desses países.

Durante a cúpula, que se desenrolou entre os dias 22 e 24 de outubro e contou com a participação de 41 países, Michel observou que muitos países, incluindo aqueles da UE, não têm se esforçado para entender as diferentes perspectivas do mundo não ocidental. Segundo ele, a falta de entendimento pode prejudicar a capacidade da Europa de competir com o crescente influência da Rússia e da China em regiões estratégicas como a América Latina, a África e o Sudeste Asiático.

Esse alerta de Michel não é apenas uma crítica, mas um chamado à ação. Ele menciona que ao invés de apenas verbalizar seus valores, a Europa deveria aprender a criar parcerias mais eficazes, baseadas na cooperação mútua. Em sua visão, um líder africano resumiu essa ideia quando afirmou: “Quando vocês, europeus, vêm ao meu país, deixam lições. Quando os chineses vêm, eles deixam infraestrutura.” Essa frase ressoa fortemente na atual conjuntura geopolítica, onde a presença da China no continente africano, por exemplo, tem sido marcada por investimentos significativos em infraestrutura.

Michel, ao se preparando para deixar o cargo no final de novembro, imprimiu à sua declaração um caráter de urgência. A sua preocupação central é que a UE precisa rever suas estratégias diplomáticas se quiser ser vista como um parceiro relevante e respeitável na arena global.

A cúpula do BRICS, organizada sob o lema de fortalecer o multilateralismo para garantir um desenvolvimento global equitativo, pode ser um reflexo da crescente fragmentação do cenário político internacional, onde organismos multilaterais convencionais, como a ONU, enfrentam críticas. O BRICS, em sua essência, procura consolidar uma nova ordem que desafie a hegemonia ocidental, e a postura de Michel sugere que a Europa deve levar isso a sério ao repensar seu papel no mundo contemporâneo.

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