A Sociedade Brasileira e o Enfrentamento das Facções Criminosas
Uma recente pesquisa revelou que 72,8% dos brasileiros consideram que facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), deveriam ser classificadas como grupos terroristas. Apenas 18,8% dos entrevistados expressaram opinião contrária à proposta. O levantamento foi conduzido pelo Instituto de Planejamento Estratégico (Ibespe) entre os dias 3 e 10 de novembro, envolvendo 1.010 pessoas em todo o país, com margem de erro de 3,1 pontos percentuais e grau de confiança de 95%. Essa amostra é representativa do eleitorado brasileiro, conforme os métodos estabelecidos pela instituição.
Os dados da pesquisa indicam que a crença na equiparação das facções ao terrorismo é mais expressiva nas regiões Sul e Centro-Oeste, com percentuais de 75,4% e 80,6%, respectivamente. Em contraponto, a região Norte apresenta a menor adesão à ideia, com 64,8% de apoio. O levantamento também revelou que homens são mais favoráveis à comparação (78,7%) em relação às mulheres (67,5%). Ademais, entre as faixas etárias, os indivíduos de 35 a 44 anos manifestaram apoio significativo (76,8%). A pesquisa destaca ainda uma disparidade entre eleitores de diferentes candidatos nas últimas eleições: 85,9% dos eleitores de Jair Bolsonaro apoiam a equiparação, enquanto apenas 59,6% dos que votaram em Luiz Inácio Lula da Silva concordam com a proposta.
Além de indagar sobre a questão das facções, a pesquisa abordou a controvérsia em torno de uma declaração de Lula durante uma viagem à Indonésia, na qual sugere que traficantes podem ser considerados vítimas dos usuários de drogas. Essa fala gerou desconforto, e 43,6% dos entrevistados acreditam que o presidente se confundiu, enquanto 38,3% sustentam que ele realmente pensa dessa forma.
No âmbito legislativo, a discussão sobre a equiparação das facções a terroristas vem ganhando destaque no Congresso Nacional. Recentemente, o deputado Hugo Motta anunciou a nomeação de Guilherme Derrite como relator de um projeto de lei que visa alterar a Lei Antiterrorismo para desferir penas equivalentes aos integrantes das facções. Contudo, nas últimas horas, Derrite recuou na intenção de avançar com as mudanças nessa legislação, refletindo a complexidade do tema.
A proposta enfrenta resistência do governo, que teme que essa classificação permita intervenções de outros países, como os Estados Unidos, uma preocupação já expressa por autoridades, que citam precedentes perigosos em relação a ações militares na América Latina. A articulação política em torno dessa questão é intensa e revela as divisões ideológicas existentes na sociedade brasileira em relação ao enfrentamento do crime organizado.









