Amorim reafirma necessidade de diálogo com a Venezuela para evitar influências externas e preservar a democracia na região em audiência na Câmara dos Deputados.

Na última terça-feira, 29 de outubro de 2024, o embaixador Celso Amorim, atual assessor especial da presidência para assuntos internacionais, compareceu à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Durante a audiência, Amorim enfatizou a necessidade de o Brasil manter canais de diálogo abertos com a Venezuela, ressaltando a importância desse processo para evitar a influência de potências externas no país vizinho. Ele argumentou que a falta de comunicação poderia transformar a Venezuela em um novo campo de disputa geopolítica, semelhante a uma “Guerra Fria”.

O embaixador mencionou que, apesar do “mal-estar” nas relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela, sobretudo após a conturbada eleição venezuelana em julho deste ano, a comunicação deve ser privilegiada. Amorim afirmou que o Brasil, juntamente com Colômbia e México, atuou como mediador durante o processo eleitoral em um esforço para facilitar a resolução pacífica dos conflitos. No entanto, ele fez notar que as promessas do presidente Nicolás Maduro de apresentar documentos comprobatórios de sua vitória não foram cumpridas, gerando desconfiança nas relações.

Atualmente, Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, tem se comunicado com interlocutores em vez de dialogar diretamente com Maduro. Amorim respondeu a apelos de parlamentares da oposição que sugerem a quebra das relações diplomáticas com a Venezuela, afirmando que tal medida não seria prudente. Segundo ele, a manutenção de relações diplomáticas é fundamental para que o Brasil tenha algum nível de influência no processo de democratização venezuelano. “O mal-estar existe, mas se quisermos alguma influência em um processo de democratização, precisaremos de interlocução”, destacou.

Ele também alertou sobre as eleições regionais e parlamentares previstas para o próximo ano na Venezuela, considerando-as tanto um risco quanto uma oportunidade. Para Amorim, a efetividade do Brasil como um atuante interlocutor regional depende de sua capacidade de manter o diálogo aberto. Além disso, ele enfatizou que a influência do Brasil se faz necessária para evitar que outros atores internacionais, como os Estados Unidos, ocupem esse espaço no cenário venezuelano.

Durante a audiência, Amorim comentou também as recentes tensões entre Brasil e Venezuela com relação à entrada do país no BRICS, um grupo de economia emergente do qual os dois países fazem parte. A Venezuela acusou o Brasil de barrar sua entrada no grupo, levando o Itamaraty a ser classificado pela chancelaria venezuelana como um conspirador em uma “agressão”. Amorim afirmou que, no atual momento, a presença da Venezuela no BRICS não contribuiria para um “melhor funcionamento” do bloco, levando em consideração as circunstâncias políticas atuais.

Circunstâncias que, segundo ele, tornam imprescindível a continuidade do diálogo e o uso da diplomacia como ferramenta primordial na política externa brasileira em relação à Venezuela.

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