América Latina e BRICS: A Nova Era da Energia Nuclear na Região e Seus Desafios Financeiros

Às vésperas da COP30, que ocorrerá em Belém (PA), as discussões sobre energia limpa se tornam cada vez mais relevantes. Um dos caminhos frequentemente ignorados nas conversas é a energia nuclear, que, apesar de suas controvérsias, já desempenha um papel significativo na matriz energética de alguns países da América Latina, como Argentina, Brasil e México. Atualmente, essas nações operam usinas nucleares que, juntas, contribuem com cerca de 5% da eletricidade total de seus sistemas nacionais.

Contudo, diversos especialistas afirmam que a expansão da energia nuclear na região enfrenta obstáculos consideráveis, em especial no que tange ao financiamento e à falta de comprometimento com projetos de longo prazo. Astrid Cazalbón, coordenadora do Observatório Latino-Americano da Geopolítica Energética, ressalta a importância de um planejamento meticuloso e de uma mobilização financeira robusta. Ela argumenta que a energia nuclear pode oferecer uma solução eficaz para a crescente demanda por fontes de energia limpa e estável.

Leonam Guimarães, da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares, aponta o Novo Banco de Desenvolvimento — conhecido como Banco do BRICS — como uma alternativa promissora para financiar essas iniciativas. Ele observa que as nações que compõem esse grupo, especialmente Rússia e China, possuem experiência considerável na construção e operação de usinas nucleares, o que pode ser capitalizado para fortalecer a indústria nuclear na América Latina.

Além disso, ambos os especialistas concordam que a energia nuclear pode aumentar a autonomia energética da região e reduzir a vulnerabilidade a oscilações climáticas e flutuações de mercado. Guimarães não acredita ser viável alcançar total autonomia em um mundo globalizado, mas vê a cooperação entre os países latino-americanos como um passo crucial em direção a uma cadeia produtiva mais independente.

No cenário atual, a Argentina se destaca por sua infraestrutura nuclear consolidada, mesmo diante de desafios econômicos. O país, que estabelece parcerias com o Brasil para o desenvolvimento de tecnologia nuclear, tem sido um exportador ativo na área, especialmente em reatores de pesquisa. A colaboração entre essas nações é vista como um caminho essencial para o fortalecimento da capacidade nuclear na região.

Em suma, a energia nuclear apresenta-se como uma alternativa viável e necessária para a América Latina, mas sua expansão depende de um esforço conjunto em busca de investimentos e de uma visão compartilhada sobre o papel estratégico dessa matriz energética no futuro da região.

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