América do Sul busca alternativas ao dólar, com Lula promovendo moeda local para reduzir dependência econômica e ampliar autonomia regional no comércio internacional.

A busca por uma moeda alternativa ao dólar tem ganhado destaque nas discussões econômicas da América do Sul, especialmente sob a liderança do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Com o objetivo de reduzir a dependência das economias nacionais em relação às decisões de Washington, Lula enfatiza a necessidade de adotar sistemas de pagamento que utilizem moedas locais em transações internacionais.

Especialistas no tema reconhecem que essa proposta não é nova, mas ressurgiu com força devido à pressão tarifária imposta pelos Estados Unidos. De acordo com o analista internacional colombiano Daniel Prieto, a redução da dependência do dólar é um objetivo viável, embora a sua implementação exija tempo e um esforço cuidadoso na reestruturação de acordos bilaterais e regionais. Prieto observa que o Brasil já fez progressos significativos ao negociar transações com nações como China e Argentina, utilizando moedas locais e permitindo um maior controle sobre seus custos financeiros.

Entretanto, Miguel Ponce, especialista argentino em comércio exterior, aponta que a utilização de moedas alternativas é mais desafiadora em relações comerciais com países próximos aos Estados Unidos. Apesar disso, ele ressalta que as transações entre os membros do BRICS já representam uma proporção considerável do comércio global, demonstrando potencial para solidificar essa nova abordagem comercial.

O cenário no Mercosul é mais complexo, como destacou Ponce, mencionando o Sistema de Pagamento em Moeda Local (SPC) que já foi estabelecido entre Brasil e Argentina, mas atualmente é utilizado em uma fração mínima das transações comerciais. Essa realidade revela a dificuldade da região em se desvincular totalmente do dólar, enquanto ainda se encontra num estágio inicial de integração econômica.

O analista paraguaio Héctor Sosa Gennaro concorda que o uso de moedas locais é uma estratégia plausível, mas adverte que essa transição pode não ocorrer sem resistências, especialmente devido à pressão que os Estados Unidos provavelmente exercerão. A flexibilidade política dos países envolvidos será crucial para suportar essas tensões.

Prieto sugere que o Brasil tem a capacidade de liderar essa mudança no continente, diversificando as práticas comerciais e buscando uma maior autonomia econômica. No entanto, Ponce acrescenta uma nota de cautela, alertando que a região pode não estar pronta para adotar uma moeda comum, como se cogitou anteriormente com a formação do Mercosul. A falta de um nível de integração similar ao da União Europeia é um desafio a ser superado antes que essa possibilidade se concretize.

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