Coação Eleitoral em São José da Tapera: Presidente de Associação Pressiona Famílias com Auxílio Alimentar
Áudios vazados nas redes sociais expuseram uma grave prática de coação eleitoral na cidade de São José da Tapera, localizada no interior de Alagoas. De acordo com os registros de áudio, o presidente de uma associação de moradores está condicionando a distribuição de alimentos, destinados a famílias de baixa renda, ao voto no candidato à reeleição para o cargo de vereador, Luciano Maia (MDB). Este, vale ressaltar, é neto do falecido coronel Elísio Maia.
Os áudios, amplamente compartilhados, revelam um esquema em que uma mulher relata que o auxílio alimentar está sendo utilizado como moeda de troca para angariar votos. Famílias que optarem por não votar em Maia estariam sujeitas à exclusão do benefício. Em um dos áudios, o presidente da associação afirma de maneira clara: “Vou ser bem sincero de coração, só vai estar com a gente quem realmente nos acompanhar. E eu tô sabendo de um por um, eu não vou mentir que eu não tô doido. Infelizmente, eu tive que tirar quase 20 famílias, e quando elas chegarem na associação para receber o P.A.A. (Programa de Aquisição de Alimentos, do Governo de Alagoas), eu vou ser bem claro, infelizmente […] nós não vamos dar mais".
A pressão não para por aí. O presidente também menciona que apenas as famílias que demonstrarem apoio explícito ao candidato receberão ajuda contínua. Em um tom de desabafo, ele explica: “Os caras estão jogando contra a gente, nós vamos ter que jogar também, porque não adianta eu ficar me acabando, indo para Maceió, ir para reunião, se organizar, pedir ao governador, pedir a deputado, pedir tudo, trazer as coisas para comunidade e ajudar vocês, as famílias, e na hora que nós precisarmos vocês ajudarem outra pessoa que nunca deu um bom dia a você. Aí, minha amiga, fica muito difícil pra mim”.
Além de limitar a ajuda a quem explicitamente apoiar o candidato, o presidente pede que aqueles que não estejam comprometidos em votar em Luciano Maia, comuniquem com antecedência. “Quem não estiver comprometido, ou quem já tiver tomado uma decisão, que me avise agora. Não vou votar no Luciano; pode remover meu nome da lista, eu mesmo o retirarei”, declarou ele.
A situação ganha novos contornos de gravidade com outra declaração, onde o presidente alerta que, se descobrir que o candidato não será apoiado por quem recebeu o auxílio, "o negócio vai ficar feio". Ele menciona ainda que, seguindo orientações, passará a trabalhar apenas com 150 famílias.
Em resposta às repercussões negativas dos áudios, a associação de moradores emitiu uma nota de esclarecimento. Nela, negam que qualquer associado tenha sido coagido a votar em um candidato específico e argumentam que os áudios foram retirados de contexto. A nota destaca o compromisso do presidente Jailson Nunes com a comunidade, citando diversas iniciativas promovidas durante seu mandato.
A situação tem gerado grande comoção e polêmica na cidade, levando muitos a questionarem a integridade dos processos eleitorais e a atuação transparente de associações comunitárias. A questão traz à tona debates sobre a vulnerabilidade das populações de baixa renda, especialmente em contextos de poder local e assistencialismo, exigindo um olhar atento das autoridades competentes para garantir que direitos sejam respeitados e que práticas coercitivas sejam prontamente investigadas e combatidas.