No mês em que se celebra o Dia do Fonoaudiólogo, o avanço dos diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista entre crianças reacende a importância da atuação desse profissional no desenvolvimento infantil. O Brasil soma 2,4 milhões de pessoas com TEA segundo o Censo 2022, equivalente a 1,2% da população, com prevalências mais altas nas faixas de 5 a 9 anos. Para a fonoaudióloga infantil Gabriela Peixoto, o crescimento dos diagnósticos está ligado ao avanço das avaliações especializadas e ao acompanhamento fonoaudiológico, que auxilia na identificação dos primeiros sinais.
Mesmo com sinais que surgem ainda no primeiro ano de vida, muitos pais só procuram ajuda quando percebem dificuldade de comunicação ou atraso de fala. Gabriela explica que o olhar atento da família, aliado ao preparo de profissionais de educação e saúde, tem permitido avaliações mais consistentes. Ela destaca que, embora haja mais informação, também se observa um crescimento real de atrasos no desenvolvimento infantil, nem sempre ligados ao TEA, mas que exigem acompanhamento especializado.
A intervenção precoce é considerada decisiva para o desenvolvimento da linguagem, já que os primeiros anos são marcados por intensa plasticidade cerebral. “Quando a base comunicativa é estimulada no tempo certo, todo o processo de aprendizagem avança. Isso reduz atrasos, melhora a adaptação social e impacta diretamente o futuro da criança”, afirma a especialista.
No contexto do autismo e de outras neurodivergências, o trabalho fonoaudiológico vai muito além da fala. Gabriela utiliza metodologias baseadas em evidências científicas, como a ciência ABA e a Comunicação Alternativa e Aumentativa, que oferecem caminhos estruturados para desenvolver comunicação funcional, atenção conjunta e interação social. “O objetivo não é apenas fazer a criança falar, mas garantir que ela consiga se comunicar de forma eficiente, com ou sem fala verbal. A autonomia começa pela comunicação”, explica.
Entre as queixas frequentes trazidas pelas famílias estão seletividade alimentar, rigidez comportamental e dificuldade em lidar com novas rotinas ou texturas, aspectos comuns no espectro e que também fazem parte da atuação do fonoaudiólogo infantil. Esse trabalho técnico é complementado por um acolhimento cuidadoso. “Sempre reforço que o diagnóstico não define a criança. Com apoio adequado, todas evoluem”, enfatiza.
O crescimento das matrículas de estudantes com TEA nas escolas brasileiras, que aumentaram 44 por cento entre 2023 e 2024, evidencia a necessidade de equipes preparadas e de profissionais que atuem em parceria com a rede escolar. Gabriela observa, porém, que muitas instituições ainda enfrentam dificuldades de inclusão e as famílias relatam falhas no suporte oferecido.
A data de 9 de dezembro reforça a relevância da fonoaudiologia, uma profissão que ampliou sua atuação de quatro para mais de 13 áreas reconhecidas oficialmente e que se tornou indispensável no acompanhamento de crianças e adolescentes neurodivergentes. Para Gabriela, o avanço da ciência e a maior compreensão da sociedade sobre comunicação e desenvolvimento colocam o fonoaudiólogo como peça-chave no cuidado integral. “Nosso trabalho promove autonomia, favorece a aprendizagem e transforma o percurso das famílias. A comunicação é o que conecta a criança ao mundo”.
*Por Tríade Comunicação
