Entre janeiro e junho de 2025, o Brasil registrou 45,9 mil novos casos de erros assistenciais em saúde, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O número acende um alerta sobre a necessidade de aprimorar protocolos e qualificar serviços, especialmente em áreas sensíveis como o diagnóstico por imagem.
De acordo com Gilvane Lolato, gerente-geral de Operações da Organização Nacional de Acreditação (ONA), a certificação de qualidade é uma das ferramentas mais eficazes para reduzir falhas e aumentar a segurança do paciente. “A acreditação garante que cada etapa do cuidado, do agendamento à entrega do resultado, siga normas técnicas, com profissionais capacitados e equipamentos calibrados. Isso traz mais segurança e confiança”, afirma.
Erros mais comuns em exames
No caso da mamografia, os equívocos mais frequentes envolvem compressão insuficiente e posicionamento incorreto, o que pode ocultar regiões importantes da mama. A densidade mamária elevada, especialmente em mulheres jovens, também é um fator de risco, pois pode mascarar tumores. “Nódulos fibrocísticos e calcificações benignas podem ser confundidos com câncer, gerando diagnósticos equivocados”, explica Gilvane.
Na ultrassonografia, os erros geralmente ocorrem pela confusão entre cistos e nódulos sólidos. “Esse exame depende muito da experiência do profissional. Lesões pequenas podem passar despercebidas, atrasando o diagnóstico e colocando a vida da paciente em risco”, completa.
Já na ressonância magnética das mamas, cuidados devem começar antes da realização do exame. O ideal é que o procedimento ocorra fora do período menstrual, já que alterações hormonais podem gerar falsos positivos. “Na marcação, o profissional deve questionar sobre o ciclo menstrual e reforçar a importância de a paciente permanecer imóvel durante o exame para garantir a qualidade das imagens”, recomenda.
Na etapa seguinte, a das biópsias e análises patológicas, os erros de correlação entre exames clínicos e laboratoriais também são recorrentes. “Mesmo com um laudo benigno, se a imagem for suspeita, o caso deve ser reavaliado. Já vimos trocas de lâminas e falhas de identificação de amostras — situações que comprometem totalmente o diagnóstico”, adverte.
Fadiga e excesso de exames agravam o problema
Entre os fatores que mais contribuem para erros estão a fadiga dos profissionais, o alto volume de atendimentos, a falta de dupla checagem em casos complexos e a ausência de auditorias de qualidade. Gilvane alerta ainda para a prática de realizar exames em massa com foco apenas em reduzir filas. “De nada adianta zerar filas se o resultado é um laudo impreciso. Um exame malfeito pode custar o diagnóstico precoce — e o tempo é o maior aliado contra o câncer.”
Orientações aos pacientes
A ONA recomenda que, sempre que possível, o paciente escolha instituições acreditadas ou reconhecidas pela qualidade. Também é importante apresentar exames anteriores, confirmar os dados pessoais antes de cada procedimento e buscar uma segunda opinião em caso de dúvida. “Essas pequenas ações fazem parte da segurança do paciente”, reforça Gilvane.
Inteligência artificial como aliada
A tecnologia tem se tornado uma ferramenta importante no combate a erros diagnósticos. Segundo Gilvane, a inteligência artificial vem auxiliando médicos e técnicos na leitura de imagens. “Os softwares de apoio à detecção ajudam a reduzir falhas de interpretação, diminuem retrabalho e aumentam a precisão dos resultados”, conclui.
