Marcelo Domingos, auxiliar de carpintaria, vê na campanha uma oportunidade de encontrar seu irmão Marcio Santos, desaparecido há mais de dois anos. Marcio, de 41 anos, desapareceu após uma crise emocional, enquanto trabalhava na coleta de capim-sapé no município de Flexeiras, Alagoas. Desde então, sua família vive em um limbo de angústia e saudade, sem qualquer notícia sobre o paradeiro do parente.
Diversas buscas foram realizadas na região, contando com o apoio da Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e do grupamento aéreo da Secretaria de Segurança Pública, mas todas sem sucesso. “Eu precisei sair do emprego e quase entrei em depressão. Quando assisti à matéria na televisão sobre a mobilização, reacendeu uma esperança. Separei toda a documentação e vim para doar o DNA. Quero encontrá-lo com vida ou morto. Eu e minha família precisamos fechar esse ciclo doloroso”, declarou Marcelo.
O primeiro dia da campanha foi marcado pela presença de muitos familiares de desaparecidos no Instituto Médico Legal (IML) de Maceió. A iniciativa, que vai até o dia 30 de agosto, pretende coletar amostras de DNA de parentes de pessoas desaparecidas. Segundo Cláudia Ferreira, perita odontolegista, a coleta de material biológico é não invasiva e o perfil genético obtido será inserido na Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), para confronto com amostras genéticas de pessoas vivas e falecidas com identidade desconhecida em todo o país.
A campanha ocorrerá em três etapas. A primeira, focada na coleta de DNA, já está em andamento. A segunda etapa, que será realizada em setembro, concentrará esforços na coleta de impressões digitais e material genético de pessoas vivas com identidade desconhecida, em hospitais, clínicas e abrigos. A terceira etapa se dedicará à pesquisa de impressões digitais de pessoas falecidas não identificadas nos bancos de biometrias estaduais.
Rosimeire Freire, delegada responsável pelo projeto Desaparecidos em Alagoas, destacou a importância da campanha para a resolução de casos de desaparecimento. “Essa mobilização pode trazer respostas para a elucidação de crimes e auxiliar na localização de pessoas com paradeiro desconhecido, aumentando as chances reais de localizar seus parentes”, explicou.
A coleta de DNA está sendo realizada no IML de Maceió, localizado na Avenida Luiz Avelino Pereira, no bairro Tabuleiro do Martins, e no IML do Agreste, na Avenida Governador Lamenha Filho, Bairro Jardim Tropical, em Arapiraca. O horário de atendimento é das 8h às 18h.
Dados da Senasp indicam que, de janeiro a julho deste ano, Alagoas registrou 375 casos de pessoas desaparecidas, com uma média de duas pessoas desaparecidas por dia. A maioria das vítimas são homens, maiores de 18 anos. A perita-geral da Polícia Científica, Rosana Coutinho, enfatizou que a participação das famílias na doação de DNA é crucial para a eficácia das buscas e a eventual resolução desses casos.