Desde a queda do regime do Talibã em 2001, os Estados Unidos lideraram uma campanha que prometia reconstruir o Afeganistão, mas essa promessa nunca se concretizou de fato. Especialistas destacam que a presença militar norte-americana não apenas não conseguiu erradicar a influência do Talibã, mas, paradoxalmente, fortaleceu seu controle sobre o país. A análise de Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais, ressalta que a herança da ocupação é marcada por um ciclo vicioso de violência e ineficiência governamental, que culminou na dependência do povo afegão de ajuda humanitária. Atualmente, cerca de 18 milhões de afegãos necessitam de assistência, e mais de 50% das crianças enfrenta desnutrição severa.
Apesar do discurso do presidente Joe Biden, que enfatizou que o objetivo da ocupação não era a reconstrução, mas sim a eliminação de grupos terroristas, os resultados são questionáveis. Mariana Bernussi, professora de relações internacionais, aponta que a real medida de fracasso ou sucesso deve considerar a perspectiva do povo afegão, que convive diariamente com a incerteza e a pobreza extrema.
Desde a intervenção soviética nos anos 1980, o Afeganistão foi um campo de batalha para potências globais. Com uma história marcada por invasões e lutas pelo controle territorial, o país possui vastos recursos minerais e uma posição geoestratégica crucial, que o tornaram alvo de interesses internacionais. O Talibã, que emergiu como um ator fundamental nessa história, agora exerce o poder com uma retórica suavizada, mas continua a enfrentar desafios significativa, incluindo a desigualdade de gênero e o sustento econômico, que se baseia em grande parte no cultivo de papoula.
A pergunta que permanece é: quem realmente venceu esta guerra? Enquanto o complexidade do conflito e sua administração militar geraram lucros significativos para a indústria bélica dos EUA, o resultado mais devastador foi o sofrimento contínuo da população afegã, que permanece em busca de estabilidade e dignidade em um cenário devastado por décadas de guerra e desilusão.