Acordo Mercosul-UE: Integração ou Dependência? Especialistas Alertam para Riscos de Colonialismo Econômico em Novo Tratado Bilateral

Negociações do Acordo Mercosul-União Europeia: Encruzilhadas entre Integração e Dependência

As negociações em torno do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, iniciadas há duas décadas, seguem cercadas de incertezas. Recentemente, a assinatura do pacto, que estava prevista para a Cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu, foi adiada para janeiro de 2026. O pedido da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, refletiu tensões entre os interesses nacionais de Europa e os do bloco sul-americano.

A dificuldade em avançar com o acordo tem raízes profundas em questões sociais e agrícolas. Itália, Polônia e França, que juntas constituem cerca de 35% da população da União Europeia — e precisam de 65% de apoio para aprovar o tratado — travam a discussão, temendo a competição de produtos do Mercosul. Mesmo que o agronegócio não seja preponderante em toda a Europa, a pressão política de pequenos agricultores é significativa, especialmente em tempos de crise interna, destacando a vulnerabilidade desses mercados.

Analistas como Ana Carolina Marson e Carolina Pavese enfatizam que o robusto setor agrícola do Mercosul representa uma ameaça aos produtos europeus que, em face da competição, poderiam sofrer com a liberalização do mercado. Para os países sul-americanos, as consequências podem ser desastrosas, considerando que a indústria europeia é tramada de forma a ser mais competitiva.

Marson critica a visão do acordo, afirmando que ele “beira o colonialismo”, pois favorece a abertura do mercado brasileiro para produtos europeus, enquanto se impõem salvaguardas rigorosas sobre os produtos agrícolas sul-americanos. Essa dinâmica, segundo ela, perpetuaria a desigualdade histórica entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento.

Por outro lado, Pavese vê aspectos positivos no acordo. Ela acredita que a integração ao mercado europeu pode impulsionar a modernização da indústria do Mercosul e criar oportunidades de investimentos e práticas sustentáveis. A necessidade de adequação aos altos padrões ambientais europeus pode, de fato, beneficiar a sustentabilidade dos setores produtivos da América do Sul.

Entretanto, o espectro da desindustrialização continua a assombrar a região, dado que a maior exposição a produtos e serviços europeus pode prejudicar as indústrias locais. Além disso, existe uma resistência crescente entre segmentos da sociedade civil, como ambientalistas e agricultores familiares, que temem não ter condições de aproveitar as oportunidades geradas pelo acordo.

Em um cenário de crescente competição internacional, a diversificação comercial torna-se precisa. Os países do Sul Global, assim como os do Mercosul, devem explorar alternativas a partir de parcerias com economias emergentes da Ásia, como China e Índia, que oferecem oportunidades onde seus produtos apresentam mais competitividade. A busca por acordos de livre comércio com nações como Singapura e discutir negociações com outros destinos são passos que podem proporcionar uma rede comercial mais robusta.

Com o cenário atual, o Mercosul pode se mostrar não apenas como um mercado, mas como uma estratégia para a União Europeia se distanciar do protecionismo do mercado americano. A integração entre essas economias pode, portanto, ficar em evidência, mas é crucial que os benefícios desta interligação sejam tangíveis e sustentáveis para todos os envolvidos.

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