A imagem da melancia evoca lembranças de uma experiência pessoal, ocorrida em um movimentado ponto de ônibus na Asa Norte. Em um típico sábado à tarde, um homem de feições robustas, com traços marcados pelas dificuldades da vida, carregava uma melancia em seu colo. O cenário era de um terminal repleto de pessoas ansiosas para voltar para casa, e, assim, a presença daquela melancia começou a me incomodar. O que levara aquele homem a transportar um fruto tão volumoso em meio a tanta agitação? Meus pensamentos foram tomados pela inquietação e pela frustração, imaginando como aquela fruta ousava conquistar tanto espaço e atenção no ônibus.
As visões que passei a criar em minha mente eram de um transporte tumultuado, em que a melancia, com seu formato oval e imponente, poderia se transformar em um obstáculo incômodo, dificultando a passagem. No entanto, esse desconforto logo se desfez quando o homem ao seu lado começou a compartilhar uma doce recordação. Ele falava com entusiasmo sobre como sempre levava uma melancia para casa aos sábados, um gesto de carinho para seus filhos, que adoravam a fruta. A melancia não era apenas um alimento, mas um símbolo de amor paternal, ligada a memórias de infância, quando seu pai fazia o mesmo.
Ao ouvir suas palavras, um novo sentimento aflorou em mim. O orgulho e a satisfação que transpareciam de sua voz me fizeram perceber a importância daquela melancia. Não era apenas uma inconveniência passageira, mas o portador de uma felicidade genuína que ele compartilhava com seus filhos. Quando o ônibus finalmente chegou, hesitei ao sentido de espaço. Impulsivamente, recuei e deixei que o homem e sua melancia passassem na minha frente. Sentimentos de ciúme e admiração se misturaram, e percebi que, naquele pequeno gesto, havia amor, tradição e uma alegria pura que transcende as dificuldades da vida.