A dificuldade de mudar quem somos: a resistência psíquica e as expectativas nas relações interpessoais

Transformar-se ou ser transformado em outra pessoa é algo que poucos conseguiriam fazer. As personalidades são estáveis e formam nossa maneira de estar no mundo. As pessoas vão se situando, lutando, se acovardando e se compondo ao longo da vida, estabelecendo um território mental que se torna familiar. O mapa mental que criamos delimita nossa forma de pensar e agir, e poucos ousam caminhar fora desse limite.

De acordo com a racionalidade psicanalítica, a mudança de personalidade é improvável, pois nosso ego tem vida própria e nossa psique abriga uma dimensão inconsciente operante. Não temos controle sobre o inconsciente, que influencia nossa vontade. Mudar implica risco e ansiedade, por isso acabamos nos mantendo nas nossas adequações, mesmo que isso signifique ficar preso em um casamento falido ou em um emprego desagradável.

O resultado dessa falta de mudança é um humor rancoroso e uma sensação de que talvez não sejamos realmente tolerados pelas pessoas ao nosso redor. Inconscientemente, temos três opções: nos aniquilarmos, nos tornarmos hostis com aqueles que nos limitam, ou nos alienarmos das circunstâncias. Preservamos a nós mesmos, mas não nos importamos com um mundo que não gostamos e que não gosta de nós.

Esse tema também se aplica às relações amorosas, onde sempre há alguém tentando mudar o outro. No entanto, é improvável que alguém mude sua estrutura psíquica, mesmo que queira, ainda mais apenas porque outra pessoa deseja isso. Além disso, pode ser que a pessoa em questão goste de si mesma e não queira mudar, ou que tente mudar mas não consiga.

É intrigante a ingenuidade ou petulância de quem cobra ou promete mudanças. As partes se conhecem, aceitam-se mutuamente e iniciam uma convivência baseada em expectativas. Mas a vida é incerta e ninguém sabe o suficiente sobre si mesmo ou sobre o outro para garantir que gostará do resultado de uma possível mudança.

Editar pessoas seria como conviver com um estranho. A pessoa editada não seria mais a mesma, e não haveria garantias de que teria as qualidades esperadas. Não amamos a outra pessoa, amamos o amor que essa pessoa nos dá. Nosso objeto amoroso é aquele que desejamos que nos ame. E é importante reconhecer que a outra pessoa também deseja ser amada.

No entanto, muitos egos não levam em consideração o desejo do outro. Eles se enxergam como a referência e não percebem que a outra pessoa também deseja ser amada, mesmo que de forma diferente. Desejar apenas a própria imagem e semelhança é um desejo vazio. Esses egos estéreis acabam se desencontrando consigo mesmos e não sabem como se amar.

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