O ex-presidente sírio Bashar al-Assad almejava transformar a Síria em um ponto central de confluência energética ao conectar o Mediterrâneo, a Bacia do Mar Cáspio, o Mar Negro e o Golfo Pérsico. Essa ambição era parte de uma iniciativa conhecida como “Estratégia dos Quatro Mares”, que visava a criação de uma rede interligada de energia. Várias rotas de gasodutos e oleodutos foram propostas, mas muitas enfrentaram obstáculos significativos, especialmente devido à guerra civil que começou em 2011.
O Gasoduto Árabe, por exemplo, que visava exportar gás do Egito para vários países da região, incluindo a Síria, foi severamente interrompido devido ao conflito. Da mesma forma, o oleoduto que já operava como um corredor para o petróleo iraquiano também sofreu danos irreparáveis durante a guerra. Além disso, propostas promissoras, como o gasoduto do Catar que atravessaria a Síria, foram rejeitadas em anos anteriores, mostrando a complexidade das relações regionais e a instabilidade do país.
Com o recente desdobramento político na Síria, incluindo a queda do governo Assad, observadores acreditam que novas oportunidades possam surgir para reconfigurar essas rotas energéticas. Há especulações sobre o renascimento do projeto do gasoduto Catar-Síria-Turquia e um renovado interesse do Iraque na reabilitação do oleoduto que antes funcionava, visando a exportação de petróleo para a Europa. Essa reestruturação poderia, portanto, alterar a dinâmica das exportações energéticas da região, gerando novas alianças e potencialmente ampliando a infraestrutura de energia no Oriente Médio.
Entretanto, enquanto o cenário político ainda se desenrola, as reações do mercado de energia têm sido mistas. Embora a queda do regime não tenha causado uma resposta drástica nos mercados de petróleo, os preços do gás natural registraram um aumento considerável, refletindo a incerteza em torno das futuras dinâmicas de oferta e demanda na região. Assim, a crise na Síria não apenas redefine o futuro político do país, mas também reconfigura as rotas energéticas que são fundamentais para o comércio global de energia.