A ideia de contar essas histórias, de escrever nossos próprios livros internos, vai muito além do simples ato de escrever com palavras. Podemos usar diferentes formas e ferramentas para dar vida a essas narrativas, seja através de uma conversa no divã, da confecção de um objeto simbólico ou até mesmo de um gesto ou ação do cotidiano.
No divã, por exemplo, temos a oportunidade de começar a desvendar a nossa própria história, mesmo que no início ela pareça um caos de eventos desconexos. Com a ajuda de um analista ou terapeuta, vamos costurando esses eventos, construindo parágrafo por parágrafo do nosso livro interno, até que ele ganhe um certo sentido, uma melodia única que só pertence a nós mesmos.
Durante esse processo de contar e recontar, novos fatos e interpretações se somam à narrativa, refinando o nosso livro interno e trazendo à tona o que realmente importa. Assim como na literatura, onde cada conto possui um começo incerto que aos poucos revela seu desfecho inevitável, na vida também acontece algo semelhante: o caranguejo vai sendo desenhado em silêncio dentro de nós, até que em um momento surpreendente ele se manifesta de forma clara e vívida.
Assim como Kafka e Ítalo Calvino nos ensinaram, é importante permitir que o processo de criação aconteça naturalmente, sem pressões ou interferências. Afinal, cada um de nós está com seu próprio livro invisível da vida em constante construção. E é nessa liberdade de expressão e criação que encontramos a essência de nós mesmos e das histórias que nos tornam únicos.
Neste Natal, que possamos celebrar nossas próprias histórias e refletir sobre o poder transformador de contá-las e compartilhá-las com o mundo. Cada vida é um livro em constante edição, pronto para revelar novos capítulos e desdobramentos. Que possamos continuar a escrever nossas próprias histórias com autenticidade e inspiração, dando vida ao livro interno que nos define como seres humanos únicos e especiais.